sexta-feira, 27 de março de 2015

Spoilers de todos os tipos, decepções com finais e coisas do tipo

As vezes, quando estou lendo, abro o livro no final, e leio a última página.

A última página não te fala muito do climax. A última página é um dez de espadas. Qualquer coisa que tinha que acontecer já foi, agora Inês é morta, é aquele é só o último fio do texto.

Forma geral, finais me decepcionam.

Então, já sabendo que a única definição para o final de Mass Effect é "uma bosta", eu fui lá e li o final: a última decisão de Shepard.

E é mesmo uma bosta de níveis galácticos esse final.



Mas volto aos livros.

Ler a última decisão de Shepard foi como abrir a última página do livro e ler, sem contexto algum, aquele trecho. Minha ansiedade fica aplacada, porque eu estou livre do final. Faço isso com coisas que gosto muito, que me deixam com palpitação. E que eu não tenho pressa nenhuma de chegar no fim, mas sei que sou obcessiva demais para conseguir ler/jogar/assistir devagar. E eu quero aproveitar cada segundo daquela imersão, quero me perder naquele cenário, e o final não é tão importante assim. Porque nesses casos, o que importa é o caminho, o percurso que vou fazer para chegar até o fim, que normalmente é só o prenúncio da imensa ressaca que vou sentir quando terminar.

A trilogia Segredos do Poder, de Shadowrun, foi assim. Eu não queria chegar no final (que não é ruim, é bem bom, mas podia ser menos corrido). Não queria dizer adeus a Dodger e Twist de jeito nenhum. Eu estava apaixonada por eles. E pela Heart. E então eu fui lá, e li as últimas duas páginas. E voltei a ler, degustando a história com menos ansiedade, sabendo que no final, as coisas iam entrar nos eixos.

As vezes leio e perco a ansiedade por saber que o final é uma bosta e que só a fanfic salva.

Isso não significa que eu não me importe com spoilers. Muito pelo contrário, eles me irritam profundamente quando eu não procurei por eles e eles caem no meu colo. Tive um de Black Sails que me deixou muito, muito brava. Tive uns de Malévola que fizeram com que desistisse de ver o filme, porque eu simplesmente já sei demais para conseguir, nesse momento, conseguir curtir alguma coisa.

E não quero spoilers de Mass Effect, porque eu quero me virar para dar conta do processo, do meu envolvimento narrativo com o jogo. Eu passei por Virmire sem spoilers. E foi fantástico, emocionante, forte e incrível, e não quero perder isso.

Esse é um os casos onde sua milhagem pode variar. Tem gente que abomina todo e qualquer spoiler. E está certo. Tem gente que aceita todo tipo de spoiler, e está certo também. E tem eu e muita gente ai no meio que considera ok alguns spoilers, mas outros não. Acho que o grande ponto é: se eu procurei uma informação, voluntariamente, que bacana. Mas quando eu tenho uma informação que eu não queria esfregada na minha cara, é chato pra caramba.

Então não seja babaca e não poste spoilers. Nem piadas com coisas que aconteceram no episódio da semana. Não importa o quanto você esteja empolgado, não custa colocar um alerta de spoiler.

E se você se distraiu e soltou um spoiler, peça desculpas. Assuma que fez cagada. Eu já fiz isso. E olha, nem doeu pedir desculpas e me policiar mais.



É raro que eu goste do final de alguma coisa. Red Dead Redemption também tem um final cocô.

Na maioria dos livros, é decepção pura e simples. Um décimo de "eu faria diferente" e nove décimos de estar de saco cheio de moralismo, machismo, racismo, clichê. Especialmente o moralismo, no caso dos finais de histórias, é um negócio que dói na alma de tão frequente.

Esse moralismo também atinge games e filmes e seriados e quadrinhos. Seriados não moralistas é algo que eu ainda tou pra ver. Mesmo os que tem fama de "politicamente incorreto" são moralistas. Filmes sempre caem nessa. Redenção só se dá pela morte, mulheres que transam tem que casar e ter filhos, o destino dos filhos é seguir os passos dos pais, etc, etc etc...

Soma-se a isso o fato de que metade para mais dos finais são corridos. A história tem um passo até chegar perto do fim, ai rola um surto e tudo vira resumo para acabar logo, correndo. Coisas que indicavam uma resolução lenta se resolvem por magia. Pesquisas de anos se completam em uma semana. E o ritmo narrativo se perde para virar videoclip, corte em cima de corte de cena, frenético. Mesmo nos livros. Mesmo nos quadrinhos.

E foi assim que eu aprendi a gostar das coisas pelo percurso e não pelo final.


(*Gostaria de dizer que a trilogia de Jogos Vorazes é uma excessão. O final foi tão ruim, mas tão ruim, tão moralista, desnecessário, babaca, escroto, que eu simplesmente peguei raiva da série toda. Mas isso é a exceção que comprova a regra.)


Eu sou professora de arte. Na faculdade fui martelada até introjetar com o conceito de que o produto final, por mais importante que seja só tem valor como parte de um processo. Esse processo criativo é meu foco de trabalho. Então quando eu me envolvo em narrativas, é o percurso, o processo de desenvolvimento da trama, que me envolve e me dá prazer.

Gosto de pensar em como cheguei até lá. Em todas as sidequest que dei conta, toda a construção de cenário, tudo de incrível que vimos acontecer. Todos os personagens que eu vi se desenvolverem.

Sejamos realistas, quais as chances de eu gostar do final de As Crônicas de Gelo e Fogo?

O final de Fronteiras do Universo, que eu chorava de soluçar e que é perfeito mas é horrível. O final de Senhor dos Anéis, quando você sabe que o mundo de todo modo está condenado à tristeza, por mais que a gente mantenha a escuridão afastada. O final de tantos livros que eu olhei e pensei "é assim?"

Mas tudo bem. Porque o caminho que nos levou até aquele final é que importa. O que aprendemos e nos divertimos e conhecemos. Ninguém tira isso de nós, nenhum final bosta vai mudar todas as dezenas de horas onde me diverti jogando.

E é isso. 2/3 de Mass Effect jogados, mais ou menos, contando as horas que já joguei. E ansiosa, não pelo final, mas por completar o jogo para poder começar de novo com outra classe, e fazer a trilha de Renegade.

Porque não importa o que façam com o John Shepard oficial. Minha história é só minha. Minha história com o jogo é pessoal. Me pertence. E na minha hstória, consigo pensar em finais plausíveis mito menos bostas.





quinta-feira, 26 de março de 2015

Primeiras impressões - Mass Effect

Preciso dividir minha empolgação. Sabe,  eu sempre pego as coisas bem depois,  jogo as coisas com anos de atraso, e ok. Minha lista de jogos para esse ano não tem lançamentos.
Só que normalmente,  por mais que eu goste de um jogo,  a diversão começa e termina dentro dele.  Não é algo que me mobilize. Mesmo Red Dead Redemption,  que é a menina dos meus olhos,  eu não sai atormentando as pessoas sobre o quão fantástico é tudo.  É maravilhoso,  mas é o jogo e pronto. 
Até um mês atrás,  eu não me imaginaria parte do fandom de um jogo.
Ragabash comprou a trilogia.  Promoção,  ele achou que eu ia gostar também,  sei lá os motivos do coiote,  mas ele esfregou a caixa do jogo na minha cara.  Aí o Vlá me questionou: o que eu estava fazendo que não estava jogando ainda? De acordo com o Vlá,  que já me evangelizou para Gears of War,  eu tinha "o dever moral e cívico"  de jogar ME. Por fim,  o Hell disse que era Dragon Age no espaço. Ok,  garotos,  vocês me convenceram.
O grande ponto de Mass Effect é que o cenário é muito bem construído.  O background da história é rico. Os personagens tem profundidade,  as relações entre vc é os NPCs empolgam,  e a construção do universo te convence. Não só a história é muito boa, as subtramas são muito bem pensadas. O jogo tem um dos melhores cenários de scifi fi que eu já vi.  E embora como tudo,  ele tenha questões problemáticas,  tem uma quantidade decente de personagens femininas,  e você pode escolher que o Shepard seja A Shepard.
Jane Shepard é uma mulher negra no meu jogo.
Apesar de não ser assim super inovador,  Mass Effect costura as coisas muito bem. Ele é coeso. O technobabling é funcional. O tal do mass effect justifica trocentas coisas diferentes,  mas te convence.  Ler as entradas enciclopédicas que você vai habilitando,  e as descrições dos planetas,  mesmo que não mudem nada na trama do jogo,  enriquecem a experiência e formam um canon de informações que pode alimentar spin off e fanfiction e RPG de mesa para uma vida.
E a parte opera em space opera... Os romances. As amizades, as citações... As conversas com os NPCs são tão legais quanto as cenas de combate.  Você ama e odeia junto com Shepard.  Existe uma tensão nas escolhas,  porque muitas vezes são escolhas morais complexas,  que exigem um envolvimento com a trama.  Eu estava quase chorando em Virmire.  Cada vez que escrevo effect o Swift Key oferece Garrus Vakarian como próximas palavras,  rs,  porque o Garrus é amor demais gente. Sou Shakarian até morrer.
Sim, tem nome para os shipping mais queridos. Sim,  o jogo tem um fandom que está bem além da média dos jogos.
Não acho que tenha muito pra dizer do jogo que você não ache alguém que já escreveu. Afinal,  o jogo existe a anos. Mas é lindo demais. É empolgante. É um universo ficcional rico,  complexo e coerente,  que merecia ainda mais atenção dos fãs de ficção científica.
E eu vou escrever um bocado inspirada em Mass Effect,  tenham paciência.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Primeiro Encontro das Mulheres RPGistas - como foi

 
Mas o que alimenta meu coração é pensar em como foi um dia bom. Em como eu vi mulheres falando,  fazendo e existindo,  sendo elas mesmas,  em  um ambiente que não é hostil. 
Estava lotado.  Cada milímetro da Terra Magic estava tomado de gente.  A primeira coisa que me chamou a atenção foi que em pleno fim da manhã de domingo,  as pessoas estavam em uma roda de discussão sobre a exclusão sistemática das minas no meio do RPG,  das situações dantescas e dos preconceitos que passamos.  Eu nem consegui entrar na sala,  assisti parte da conversa ali no corredor.  

Desci as escadas,  fui fumar um cigarro,  e lá estava um rapaz,  conversando com outro,  dizendo que nunca tinha imaginado aquelas coisas,  que precisava falar com as minas do grupo de jogo dele,  para ver o que de cagado podia ter feito sem perceber,  e como poderia agora consertar,  tornar o grupo de jogo um ambiente mais saudável.  Vi e ouvi muitas reações assim.  Os caras estavam ouvindo,  e ficaram estarrecidos de se dar conta das cagadas.  

Eu não sou muito de jogar em evento. Não escuto bem,  então é difícil conseguir me concentrar.  Já mestrei muito em evento,  mas se tenho a opção,  gosto mesmo é de conversar com as pessoas. 
E foi o que fiz a tarde toda.  Falamos de boardgame e RPG, de cardgame e de preconceito,  de machismo e intolerância religiosa,  de café e de educação,  de pedagogia e pobreza,  trocamos histórias.  Foi muito bom,  produtivo e divertido.  E enquanto isso,  as mesas de RPG rolavam,  e era bonito ver as mulheres mestrando,  atuando,  se divertindo. 

Um dos pontos que para mim foram mais fantásticos foi o fato de o evento ser amigável para famílias.  Não adianta,  um evento inclusivo precisa ter em mente que as pessoas tem filhos, e muitas mulheres acabam sendo excluídas de participar por isso.  

O número de vezes que a gente teve problemas para carregar o pequeno em eventos,  sabendo que o fato de dividirmos de verdade as tarefas entre dois cuidadores e termos amigos dando suporte sempre nos deixou em posição vantajosa,  e mesmo assim sempre foi operação de guerra,  me torna extremamente solidária. Acho que todo evento precisava pensar nisso. Porque é um pedaço enorme do público que acaba sendo excluído, deixando de participar porque tem filhos. E o encontro lidou lindamente com o assunto. Foi um exemplo a ser seguido por todos os encontros nerds. 
E teve muita coisa que ficou na minha cabeça.  De como as opressões cotidianas se infiltram naquilo que a gente faz.  De como uma mesa de RPG pode ser libertadora e questionadora,  ou só uma repetição do status quo.  De como é difícil que as pessoas entendam que não existe um estereótipo de "mulher rpgista"  de "mulher nerd",  que somos rpgistas,  assim como os caras,  de todos os tipos,  que o que nos define é nossa individualidade.  Não existe o jeito de jogar que as minas gostam,  o tipo de jogo que as minas gostam,  e que se muita menina se interessou por RPG na época do storyteller foi por ser um jogo com mais representatividade e menos chainmal bikini,  não pelo estilo ou tema. Foi só porque a gente não era sistematicamente excluída de participar só por ser menina. (e eu comecei com D&D,  vale dizer). 

Representatividade.  Acho que essa é a palavra para esse encontro e tudo que ele ainda vai gerar.
E vai gerar muita coisa. Colocou engrenagens em movimento que o pessoal nem imagina ainda.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Arena galeria

  Quando entrei na Arena da Campus Party pela primeira vez, o apelo visual do que eu vi foi como me arrebentar contra uma parede de tijolos. O espaço, tomado por bancadas e palcos, estava repleto de luzes coloridas, construções de latas de energético, placas, estandartes, adesivos colados em toda superfície possível misturando frases de efeito e logomarcas, pixações, post its com mensagens nas colunas, cartazes de todo tipo, desenhos de fita crepe no carpete. O som de palestra-show-ventilador-máquina-grito. O visual das pessoas, cheios de referências científicas e de cultura pop misturado com chinelo de dedo e pijama. Existe uma super estimulação visual e auditiva na Campus Party que trás a sensação de estar fora da realidade consensual.

Existe uma estética muito própria na expressão das bancadas da arena da CP e das vivências que acontecem dentro da arena. Eu, que passei a vida estudando conceitos estéticos e a estrutura que fundamenta a expressão artística de alguém, fiquei besta em como aquilo acontecia. Em como esse espaço que por alguns dias é a casa/trabalho/lazer desse monte de gente podia ser também algo que tinha o cheiro de uma zona autônoma temporária, e abrigar uma necessidade de expressão estética tão intensa. A Arena da Campus é uma extensão das expressões de arte urbana, de intervenção no ambiente. A conversa entre o que é tecnologia de ponta e o que é questionamento artístico de ponta se entrelaçam, mesmo sem saber.



Duvido um pouco que a maioria das pessoas participando da marcha das cadeiras nessa madrugada conheça o conceito de happening e a história artística disso, o que não impede que a marcha tenha a estrutura de um. A visão das pessoas andando com as cadeiras erguidas sobre a cabeça tem uma força estética inegável, e por mais que possa parecer pura bobagem, extrapolação de flash mob, caos, "coisa de huehue" ou de gente bêbada (entre outras opiniões menos afáveis no twitter), existe sim uma necessidade de expressão pessoal manifesta, que criou uma estrutura visual e performática.
A marcha das cadeiras. Procure no You Tube e veja a piração

Nas bancadas, tanto pelas associações identitárias de grupo como pelas expressões pessoais, essas manifestações estéticas tem uma presença firme que serve até como cartografia. Aparecem desde grafites até instalações complexas, algumas planejadas e outras que vão surgindo de forma espontânea. Os Case Mods são o exemplo mais pontual de expressão artística planejada. Os objetos decorativos que as pessoas trazem, pelúcias, action figures, banners, bandeiras e estandartes, são um outro grau de expressão planejada, mas que tem menos auto consciência artística. A maioria das pessoas não se vê como produtor criativo quando trás seu bicho de pelúcia para colocar em cima da CPU, mas a exposição disso de forma pública é uma expressão criativa.  

Acho importante explicar esse conceito: você não precisa ser artista para se expressar criativamente. O processo de expressão é natural ao ser humano, e dado o espaço para que isso ocorra, as pessoas vão usar métodos associados à arte tradicional para se expressar.

Entre as manifestações menos planejadas estão as reações das pessoas aos objetos e propagandas distribuídos no evento. O adesivo do canal Syfy colado em todo lugar possível e imaginável, muitas vezes desmontado e remontado para formar outra imagem. Adesivos usados para formar as linhas de um complexo desenho abstrato dentro da porta de um reservado no banheiro. A decoração de CPUs e notebooks com os adesivos distribuídos. A escolha de como organizar as coisas em cima da bancada, formando um espaço seu, único e pessoal. 

A certa altura, para se localizar, coisas como "perto da bandeira da Horda" "a esquerda da bancada com o cone", ou "aquele pc com um cachorro em cima" vão criando a cartografia, o mapeamento mental e afetivo do evento. As pessoas reconhecem essas manifestações e as observam, mesmo sem perceber o valor expressivo do processo.

Se existe um aspecto das vivências da CP que merece uma atenção particular de quem vem, é esse. Por um lado, observar o que é feito. Muita coisa ali pode ser usada como intervenção no mundo aqui fora. Por outro, pensar, o que eu estou fazendo? Qual é a minha expressão nesse espaço? E, se eu tenho uma mensagem para passar, será que não vale a pena assumir essa ação criativa de guerrilha e começar a também intervir nesse lugar?

Sabe o que é isso? O Sarau da Campus, que rola todas as noites.



(esse texto foi produzido na oficina #EscrevinaCampus, mediada pela Cláudia Ideguchi, e como todo texto de oficina, está aberto a críticas estilísticas. Esse blog vive em constante busca de identidade, e comentários ajudam)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Hefesto, Hermes e a CPBR8

Eu ia escrever um post super cabeça a respeito de narrativas, mas nessa madrugada caiu a ficha do povo de que a Campus tá acabando e que precisa ser curtida até o fim, e o nível de caos chegou a níveis que me impedem de pensar com clareza em qualquer coisa que não seja o momento presente.

E foi assim que rolou uma libação de guaraná Jesus e uma oferta de M&Ms para Hefesto e Hermes, porque apesar de tudo eu sou uma pessoa irritantemente religiosa.

Quando a gente pensa nos deuses, a gente tem duas opções: parar no tempo, ou tocar o barco em frente e enxergar a presença deles nas coisas dos nossos dias. Afinal, era isso que os antigos faziam. E ai, quem é responsável por essa porra toda?

Hefesto é o senhor da Tecnologia. Pertenciam a ele todas as tecnologias de ponta da antiguidade, representadas na forja e em toda técnica de manufatura. Hefesto no meu altar tem entre os objetos que ofereci para ele, junto com uma miniatura de bigorna, uma placa de memória RAM. Hefesto é o deus que mobiliza as mãos de uma pessoa que monta uma impressora 3D, que sopra no ouvido do cara debruçado em cima de aprender a lidar com Arduíno, que anima o fulano fazendo um casemod. Hefesto é um deus do hardware, da máquina, da robótica, mas também está na tecnologia de software que permite isso tudo funcionar, do mesmo modo que para os gregos, era aquele que criava beleza com a decoração precisa de um objeto eficaz. Porque para os antigos helenos, não basta ser útil, tem que ser belo, tem que ser bacanudo.



Hermes é o trickster, o senhor da trapaça, e o deus mensageiro. Comunicação, e ainda mais comunicação rápida, é o território de Hermes. Ele é quem senta do lado e observa enquanto mensagens são trocadas e contatos são feitos, a cada troca de cartões de visita e desconhecidos que sentam juntos para resolver alguma coisa.  Ao mesmo tempo, scams, spams, pirataria de dados, tudo isso entra nas tramas de trapaça que o filho de Maia abençoa.  Tanto a bagunça que permeias a arena, a bagunça idiota e a que está cheia de caos criativo, quanto as rodinhas de gente discutindo seriamente debruçadas em torno de uma discussão ética ou da resolução de um problema técnico tem a benção de Hermes. Viajantes de todo lado chegando e se concentrando, o que poderia ser mais favorável à presença de Hermes?


Claro que podemos olhar por outros deuses. A Campus B é território de Dionísio até certo ponto, e de Ate, a deusa da insensatez, depois disso, que ela com certeza tá dormindo no sofá aqui na CP. Apolo, sendo o deus daquilo que acerta de longe, tem seu espaço garantido aqui por motivos de programas fazerem isso. Zeus, senhor da ordem e da eletricidade, alfa e ômega, torna possível a porra toda.




quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Mais um dia de Campus...

... não que o dia tenha acabado.

algumas anotações avulsas:

*Uma coisa que eu acho muito curiosa na Campus é que apesar de estar abarrotada de nerds usando camisetas e acessórios e coisas e máquinas decoradas com seriados/games/filmes/livros que tem fandom bem presente aqui no Brasil, a porcentagem de figurinhas carimbadas, gente que você encontra nos eventos nerds, é bem menor do que o esperado. Não é que não encontre, a gente encontra vários, mas são comparativamente poucos.

*Se tem um lugar onde não tem um padrão visual predominante, é esse. Não tem como vcoê dizer "um campuseiro é assim". Existem elementos que vão predominar em qualquer lugar onde as pessoas estejam morando por uma semana, como mais chinelo e menos tênis (e a cada dia mais chinelo), uma predominância de gente com mochila nas costas (porque você fica carregando as coisas de um lado pro outro então né), mas não existe um padrão majoritário. Tem uma quantidade crescente de mulheres (inclusive palestrantes) a cada ano, mas ainda acho que poderia ser mais.

*Conforme os dias passam, as pessoas vão ficando mais amistosas. Puxar papo vai ficando mais fácil, as pessoas se enfiam na conversa das outras e esses papos se esticam por um tempão, vai rolando uma camaradagem maior entre as pessoas em uma mesma bancada. Cria uma familiaridade.

*A sensação de tempo fora do tempo, de estar em Nárnia, de mundo a parte, é uma coisa que eu escuto um bocado de gente comentar.

*Vou parar de viajar aqui e tocar o barco. Você sabia que se produz mais conteúdo do que se consome, aqui? O upload é muito maior que o download.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Campus Party Brasil 8

Explicar o que é a Campus é impossível. A versão oficial é a que está na página do evento, não preciso repetir isso. Com 8 mil pessoas aqui dentro, é fácil perceber que existem muitas formas de perceber o evento e muitos públicos diferentes aqui.

Não posso falar pelos outros, só por mim. A CP é o momento que inicia meu ano mental. Onde eu saio de uma realidade onde as pessoas estão em um universo onde escuto minha superior hierárquica dizer que "escola não é lugar de tecnologia" e os professores tem pavor da ideia de fazerem qualquer coisa que envolva um tablet ou um pc, mesmo que fiquem conectados no facebook e no whatsapp o dia todo. Mas quando eu falo de uso pedagógico do Facebook, sou olhada como se eu fosse a Horta tentando me comunicar com o Spock.

Uma pessoa disse que só alguém que usa drogas estranhas acampa na CP se puder evitar. Eu gosto, não tive problemas (mentiraaaaaa, um arame atravessou o chão da barraca e esfaqueou nosso colchão inflável e a regra tem sido dormir no colchão cheio, feliz e confortável e acordar no chão. mas foi só isso.) . O conceito de imergir me agrada. Eu estou em Nárnia, que é uma Narnia que tem um bocado de problemas, mas também tem um enorme potencial de maravilhamento.

Aqui eu posso assistir palestras e mesas e debates sobre N assuntos que pautam meu ano, em amplos aspectos. Com o bônus de que aqui tem música, tem cineminha, tem bagunça, tem manifestações estéticas e um potencial de TAZ.

Chegamos na terça a noite, depois de uma série de desventuras que Murphy põe na nossa vida. Mas ok, a terça foi bem vazia porque esse ano tem um dia a menos de CP, então a terça foi o dia de abertura dos portões. Hoje peguei algumas palestras bem interessantes, que me colocaram pensando. O tema comum? Narrativas. Narrativas para todo canto.

Tenho uma efervecência na mente. Agora vou dormir porque o dia começa cedo e só termina sabe se lá quando... porque a coisa aqui rola 24 horas.