segunda-feira, 2 de junho de 2014

Aniversário do filhote nerd - parte 1

Esse post não vai ter as fotos de decoração e bolo e como eu fiz todas as coisas para a festa do meu pequeno. Isso vai estar no post 2. Esse aqui é para falar de outra coisa, mais geral. É um outro tipo de "como fazer".

Existem muitas histórias para se contar sobre festas de aniversário aqui em casa. Muito antes das agora 9 festas do meu filho, existiram todas as minhas festas do tempo de criança. E existiu também uma conversa, uma conversa quase besta com um amigo e que ficou na memória porque foi a nossa primeira conversa "de adultos" (acho que uma das primeiras conversas de adulto que eu tive com qualquer um).


Essa conversa versava sobre a importância das festas e porque é que todo ano deveria ser comemorado. Sobre como é importante e perfeito e constrói memórias. Foi uma daquelas conversas que adolescentes tem porque depois de farejar o fim da infância, você sabe que algo está muito errado e precisa tomar providências. E naquela noite nós tomamos essa providência: festas eram importantes. Nós cresceríamos para fazer festas. Uma decisão que parece simples, mas que resume um modo de vida.

Os planos não foram como o esperado. Porque - e esse é um dos motivos para eu achar festas muito importantes- a vida sempre vai atropelar nossos planos.

O que nos leva para as minhas festas de criança. Meus pais -que foram pais bem cedo e por isso deviam ter claro essa urgência em celebrar o fato de estar vivo, só porque se esta vivo- sempre me fizeram as festas mais legais do universo. Que eram, para os padrões das festas que se vê por ai, coisas bem simples. Mas eram fantásticas por um motivo muito exato:

Meus pais levavam a sério as ideias malucas que eu tinha. 

Graças a uma combinação de restrições orçamentárias, pais crafteiros e restrições inerentes da década mesmo, minhas festas eram únicas e em grande parte, feitas por eles. As decorações prontas não eram acessíveis como hoje. Aliás, festa temática era meio novidade. E eu era uma criança que lia muito mais do que devia e queria festas de temas não muito convencionais... ou que mesmo sendo comuns, não eram coisas que você encontrava feitas. Ok, até tive uma ou outra festa com temas comprados feitos (assim como meu filho também já teve), mas a organização da coisa feita em casa sempre deu o tom. Porque era pegar a coisa comprada e transformar numa ambientação que conseguisse o efeito X.

Minha mãe tem no seu curriculo coisas como carruagens da Cinderela, mapas do Duck Tales, Ursinhos Carinhosos, unicórnios e alienígenas. Culminando no Halloween com que comemorei meus 15 anos. E acrescente nisso os aniversários dos meus primos... e infinitos desenhos dos Cavaleiros do Zodíaco que ela produziu para a gente em uma época em que não se podia simplesmente abrir o Google e imprimir um monte de desenhos legais.


Levar a sério as ideias malucas que eu tinha pode ser desdobrado em algo um tantinho mais complexo, e que é o verdadeiro foco desse texto.


Nunca subestime o efeito de um unicórnio pintado em cartolina e por as caixas de som no quintal em uma criança de 8 anos de idade.


Na verdade, eram duas cartolinas bem maiores que essas que se compra em papelaria, porque meu avô era encadernador e papel aqui em casa sempre foi uma fonte supimpa de magia. E era um unicórnio E um pégaso, e acho que tinha purpurina neles - ou pelo menos eu me lembro de eles brilharem.

Mas o que eu via, parada na escada olhando as pessoas dançando, era isso:







Sério. Porque eu não era uma adulta e meus pais tiveram essa sacação genial. Eu-não-era-adulta-e-eu-não-pensava-como-adulta.

E para uma criança, cara, aquele unicórnio poderia muito bem estar voando sobre as pessoas que dançavam. Porque para mim, ele estava. Mesmo.

E o que diabos isso tem a ver com seu blog de coisas nerds, Sarah Helena? 

Primeiro: o blog é meu, eu falo sobre o que eu quiser.

Segundo: imaginação, caras. Festas infantis são o passaporte carimbado para Nárnia. E é assim que se constrói tudo aquilo de fantástico que a gente gosta. Quando eu leio ou vejo um filme ou um seriado, e consigo me envolver ali até que o mundo externo cessa de existir, eu estou resgatando aquela menina de oito anos de idade parada na escada olhando O Baile - o verdadeiro, arquetípico Baile- ali, diretamente no meu quintal.

E qualquer cosplayer sabe beeeeeeem essa sensação, porque é isso que a gente faz: usa um gancho visual para "puxar" uma vivência inteira de alguém para o plano físico.


Não estou dizendo que você não deva investir nos detalhes em uma festa de criança. Na verdade, é o contrário: crianças percebem detalhes que os adultos não enxergam. Mas esse senso de maravilhamento que a gente consegue com as coisas que gosta, a criança experimenta com um tipo de detalhismo que não é o do mundo adulto. E é esse olhar que a gente precisa encontrar.

Então, quando eu estou pensando em uma festa (para o meu filho, para outra criança, para mim) eu penso muito nisso. Para quem eu estou fazendo a festa? É para os convidados? Para as fotografias? Ou para a pessoa que é dona da festa poder curtir um mergulho na toca do coelho e ir parar no País das Maravilhas?


E uma coisa não exclue a outra.Mas isso me dá um foco, um recorte. Um caminho por onde agir.

Eu quero que todo mundo ache bonito, porque eu quero que todo mundo consiga mergulhar junto com ele nas coisas pelas quais ele se fascina. Mas antes de mais nada, toda a construção cênica que faço é para o prazer dele, tendo em vista as coisas que ele considera importantes.

As festas que eu faço não são aquelas que vão ficar mais lindas na foto. Mas sempre são pensadas para que as crianças tenham espaços legais de curtição, que os adultos tenham um momento de resgate, e que o clima seja, no geral, de fantasia.

Então, tudo isso foi só para dizer que eu curto muito festa de criança. Que eu enxergo nelas a mesma coisa que eu vejo quando a gente vê um cosplay bem feito, quando tira uma foto sentado na cadeira de comando da Enterprise (mesmo estando no meio de um evento) ou tira uma foto com um prop muito bacana.

É uma porta para outro mundo.

E para começar o papo que continua no próximo post, um resumo do que tivemos até aqui nestes nove anos:

O primeiro ano, o único que a gente escolheu, não ele, teve como tema Totoro. Foi uma festa muito parecida com as minhas de criança, porque a gente desenhou Totoros gigantes em papel kraft e recortou e colou nas paredes. Eu ainda tinha uma visão de decoração de festa que era em duas dimensões. Foi um exercício de pesquisa, e a gente teve cartões postais do Totoro com selos com a fotografia do pequeno como lembrança. (esses selos vc manda fazer no Correio e tem valor postal de verdade, e são incríveis.)

No ano seguinte, o tema foi Carros, da Disney. Legaaaal, um tema que a gente podia comprar as peças prontas! E com um tanto de isopor, eu descobri que a decoração podia se espalhar de um outro jeito, não só nas paredes. E nesse ano eu cometi uma aventura, porque tinha que ter uma: fiz um exercício de imaginação: como seria o macacão de piloto do Relâmpago McQueen se ele fosse pilotado por uma pessoa? E costurei eu mesma uma roupa de McQueen pro pequeno.

No terceiro ano, o tema foi Trem. E os primeiros paper crafts fizeram sua aparição. Também foi o ano em que a gente descobriu o EVA. No quarto ano, foi Carros de novo. E além de reaproveitar as peças que a gente tinha, a gente fez novas, e criou todo um lance de uso dos espaços, de "cantos" para as crianças (e os adultos) explorarem/aproveitarem.

Com cinco anos, adivinha? Trens outra vez! Mas dessa vez, o foco eram os trens do Thomas e Seus Amigos, a primeira aventura de coleção do pequeno. E a gente descobriu as coisas que você encontra na internet e imprime para fazer a decoração...

Seis anos. Backyardigans. Eeeeeeeee, tema que você encontra pronto! Mas foi o ano da Grande Aventura dos Cupcakes. Porque o André pediu que queria: a) um bolo azul b)cupcakes com confeitos coloridos. E a louca aqui começou a fazer os bolos de aniversário do filho. O que é um negócio muito aventuroso, mesmo.

Sete anos. E o recém descoberto nerdizinho pediu um aniversário do Super Mário. Na verdade, do Super André. E a gente transformou a chácara dos meus avós em uma fase de Mário, com moedas e caixas suspensas no ar e um Mário em 8bits feito de cupcakes... enquanto o pequeno estava vestido como Super André, Porque o Mário usa, vermelho, o Luigi verde, e o André azul e eles tem aventuras juntos. E eu fiz o macacão de Super André, a boina e ainda transformei ele em sprite 8bits tbm... Imprimimos a pia da cozinha naquele ano, e a festa tinha elementos de 30 anos de games e algumas coisas que achei na internet e são tão legais que eu tenho vontade de deixar montadas o ano inteiro em cima da mesa.

Ano passado, o tema foi Minecraft. E todo aquele know-how de papercraft festeiro foi elevado over 8000... porque foi basicamente o festival de papercrafts. E um painel pintado, com um cenário do jogo. Ano passado ele chegou com um vídeo tutorial do bolo que ele queria. Já que queria um bolo difícil (um bloco de TNT e tinha que ser em glacê de manteiga, não pasta americana), ele teve a gentileza de pesquisar por conta própria como era o melhor jeito de construir o bolo. (Preciso dizer: esse bolo foi uma das coisas mais prova de superação da minha vida. foi aterrorizante porque no meio do caminho eu realmente achei que não ia dar conta e não existia um plano B. Mas como falhar não era uma opção válida... eu dei conta, rs.)

E como é tradicional repetir temas, ele decidiu por fim que queria mais um aniversário de Minecraft. Que vai ser o assunto de outro post uma hora dessas, e por isso eu paro por aqui...