Duvido um pouco que a maioria das pessoas participando da marcha das cadeiras nessa madrugada conheça o conceito de happening e a história artística disso, o que não impede que a marcha tenha a estrutura de um. A visão das pessoas andando com as cadeiras erguidas sobre a cabeça tem uma força estética inegável, e por mais que possa parecer pura bobagem, extrapolação de flash mob, caos, "coisa de huehue" ou de gente bêbada (entre outras opiniões menos afáveis no twitter), existe sim uma necessidade de expressão pessoal manifesta, que criou uma estrutura visual e performática.
A marcha das cadeiras. Procure no You Tube e veja a piração |
Nas bancadas, tanto pelas associações identitárias de grupo como pelas expressões pessoais, essas manifestações estéticas tem uma presença firme que serve até como cartografia. Aparecem desde grafites até instalações complexas, algumas planejadas e outras que vão surgindo de forma espontânea. Os Case Mods são o exemplo mais pontual de expressão artística planejada. Os objetos decorativos que as pessoas trazem, pelúcias, action figures, banners, bandeiras e estandartes, são um outro grau de expressão planejada, mas que tem menos auto consciência artística. A maioria das pessoas não se vê como produtor criativo quando trás seu bicho de pelúcia para colocar em cima da CPU, mas a exposição disso de forma pública é uma expressão criativa.
Acho importante explicar esse conceito: você não precisa ser artista para se expressar criativamente. O processo de expressão é natural ao ser humano, e dado o espaço para que isso ocorra, as pessoas vão usar métodos associados à arte tradicional para se expressar.
Entre as manifestações menos planejadas estão as reações das pessoas aos objetos e propagandas distribuídos no evento. O adesivo do canal Syfy colado em todo lugar possível e imaginável, muitas vezes desmontado e remontado para formar outra imagem. Adesivos usados para formar as linhas de um complexo desenho abstrato dentro da porta de um reservado no banheiro. A decoração de CPUs e notebooks com os adesivos distribuídos. A escolha de como organizar as coisas em cima da bancada, formando um espaço seu, único e pessoal.
A certa altura, para se localizar, coisas como "perto da bandeira da Horda" "a esquerda da bancada com o cone", ou "aquele pc com um cachorro em cima" vão criando a cartografia, o mapeamento mental e afetivo do evento. As pessoas reconhecem essas manifestações e as observam, mesmo sem perceber o valor expressivo do processo.
Se existe um aspecto das vivências da CP que merece uma atenção particular de quem vem, é esse. Por um lado, observar o que é feito. Muita coisa ali pode ser usada como intervenção no mundo aqui fora. Por outro, pensar, o que eu estou fazendo? Qual é a minha expressão nesse espaço? E, se eu tenho uma mensagem para passar, será que não vale a pena assumir essa ação criativa de guerrilha e começar a também intervir nesse lugar?
Sabe o que é isso? O Sarau da Campus, que rola todas as noites. |
(esse texto foi produzido na oficina #EscrevinaCampus, mediada pela Cláudia Ideguchi, e como todo texto de oficina, está aberto a críticas estilísticas. Esse blog vive em constante busca de identidade, e comentários ajudam)